Conforme o Dr. Barbet (1965), acontece uma dilatação intensa de capilares subcutaneos que se rompem ao entrar em contato com os fundos-de-saco das glândulas sudorípadas, sendo esta mistura de sangue e suor, o que escorre pelo corpo de Jesus. Este fenômeno deixa a pele super sensível, principalmente aos golpes que receberá futuramente.
Os estigmas do Sudário demonstraram que os instrumentos usados para a flagelação eram feitos de correias múltiplas, onde nas extremidades eram fixados “bolas” de chumbo ou ossinhos, sendo que a lei hebraica fixava 39 golpes. Foi possível também identificar, de acordo com a orientação dos vestígios no Sudário, que os dois carrascos que golperam Jesus tinham estaturas diferentes, tendo a maioria dos golpes atingido as costas, uma vez que a parte frontal estava encostada na coluna, onde Jesus estava amarrado.
[...] Lembrai-vos que a pele já está sensibilizada, dolorida pelos milhões de pequenas hemorragias intradérmicas do suor de sangue. As balas de chumbo marcam mais. Em seguida, a pele, infiltrada de sangue, mais sensível, é dilacerada por novos golpes. O sangue jorra, pedaços se destacam e ficam pendentes. Toda a face posterior não é outra coisa senão uma superfície vermelha sobre a qual se destacam grandes vergões jaspeados: aqui e ali, em toda a parte as chagas mais profundas das balas de chumbo. São aquelas chagas em forma de halteres (as duas balas com as correias entre elas) que se imprimiram no sudário”. (BARBET, 1965, p. 211)
Isaías já profetizara que Jesus passaria por tudo isso, e suportaria calado: “Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador.(Ele não abriu a boca) – Isaías 56,7.
A respeito da coroa de espinhos, assim nos fala Barbet (1965):
[...] Os espinhos penetram no couro cabeludo e faz sangrar (Nós os cirurugiões bem sabemos quanto um couro cabeludo sangra). Logo o crânio fica todo pegajoso de tantos coágulos, compridos filetes de sangue começam a escorrer pela testa por sob a faixa de juncos, ensopam os cabelos emaranhados e enchem a barba.” (BARBET, 1965).
Os estudos do Dr. Barbet (1965), também identificaram uma grave contusão no nariz de Jesus, causada pelos golpes dos legionários. Assim descreveu em seu livro no capítulo em que descreve a Paixão corporal de Jesus.
[...] mas vejo agora que uma forte paulada aplicada obliquamente, deixou na face direita uma horrível chaga contusa, e que seu grande nariz semita, tão nobre, ficou deformado por uma fratura da aresta cartilaginosa. Corre o sangue de Suas narinas pelo bigode. É demais, meu Deus!” – (BARBET, 1965, p. 213).
A túnica de Jesus, ficou colada em suas chagas. Ao arrancá-la, causou uma dor extrema em Jesus. Sobre este episódio, Barbet nos relatou da seguinte forma:
[...] Quando chega a vez da túnica, intimamente colada a suas chagas, por assim dizer a todo o seu corpo, temos algo terrível, este despojamento é simplesmente atroz. Já tirastes alguma vez um primeiro curativo colocado sobre grande chaga contusa e sobre ela ressequido? Ou experimentastes talvez sobre vós mesmo esta proba que, às vezes, necessita de anestesia geral? Se sim, podereis então saber do que se trata. Cada fio de lã está colado à superfície despida, e cada um que é retirado dá a sensação de arrancar uma das inumeráveis terminações nervosas deixadas a descoberto na chaga. Estes milhares de choques dolorosos se adicionam e se multiplicam, aumentando cada um para o seguinte a sensibilidade do sistema nervoso. Ora, não se trata aqui de lesão local, mas de quase que toda a superfície do corpo, e sobretudo daquelas lamentáveis costas.” – (Barbet, 1965, p. 215).
Segundo Barbet (1965), os cravos pontiagudos foram cravados não nas palmas, mas nos punhos de Jesus, uma vez que nas palmas das mãos, o peso do próprio corpo faria com que se “rasgasse” a palma, não sendo possível fixar deste modo.
Porém, continua Barbet, o cravo no punho atingiu o nervo mediano, causando uma imensa dor que se espalhou pelos dedos, subindo como uma língua de fogo até atingir o cérebro. A pior dor que um ser humano pode experimentar é a do ferimento dos grandes troncos nervosos, quase sempre causa a síncope. No entanto, Jesus não quis perder a consciência.
No caso de Jesus, ainda tivemos um agravante: O nervo ficou parcialmente destruído, ficando o mesmo em contato com o cravo. Este mesmo nervo, ao se erguer o Corpo de Jesus na cruz, ficou distendido, aumentando ainda mais a dor a cada movimento que Jesus fazia na Cruz...e isso durante três horas.
Após ser erguido na cruz, além de toda a dor, Jesus passou a ter grande dificuldade para respirar, em razão da tetania, fenômeno que se verifica quando a cãibra se generaliza por diversos músculos do corpo.
Assim descreveu Dr. Barbet:
[...] Os músculos do ventre se enrijecem como em ondas congeladas, depois intercostais, em seguida os músculos do pescoço e os músculos respiratórios. A respiração tornou-se pouco a pouco mais curta, superficial. As costelas já elevadas pela tração dos braços, ainda mais se sobrelevam; o epigástrio se cava e também o mesmo acontece com as covas das clavículas. O ar penetra sibilando, mas quase não sai mais. Respira só no alto, inspira um pouco e não mais consegue expirar. Tem sede de ar. (Parece um asmático em plena crise). O rosto pálido, pouco a pouco fica corado, vermelho, passa ao violeta púrpura e em seguida azul. É a asfixia. Os pulmões fartos de ar não conseguem esvaziar-se. A testa se cobre de suor, os olhos fora das órbitas se reviram. Que dor atroz deve martelar seu crânio! (Barbet, 1965, p. 218).
Numa tentativa de tomar forças para pronunciar as últimas palavras na cruz, toma como ponto de apoio o cravo dos pés. Somente desta forma, segundo Barbet, consegue aliviar por alguns momentos a asfixia. Temos 7 frases pronunciadas por Jesus na cruz. Cada vez que respirou, teve que erguer-se sobre os cravos dos pés, para tomar fôlego.
Possivelmente sobre as chagas de Jesus, pousaram moscas. Barbet descreveu este momento da seguinte forma:
[...] Um enxame de moscas terríveis, grandes moscas de cor verde e azul, como se costumam ver nos matadouros de carneiros, turbilhonam em volta de seu corpo; e bruscamente se abatem sobre uma ou outra de suas chagas, para sugar-lhe a serosidade e ali depositar seus ovos. Elas se encarniçam sobre o rosto; impossível repeli-las. Por felicidade, depois de algum tempo, o céu se obscurece, o sol de esconde, faz de repente muito frio e estas filhas de belzebu abandonam pouco a pouco o terreno (BARBET, 1965, p. 220).
E, no momento em que quis, Jesus bradou: “Consummatum est” – “tudo está consumado”- (Jo 19, 30).
Jesus deu então um grande brado e disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” E, dizendo isso, expirou. (Lc 23,46)
E Barbet encerra seu livro da seguinte forma:
[...] Jesus está em agonia até o fim dos tempos. É justo, é bom sofrer com Ele e, quando nos envia a dor, agradecer-lha, e associá-la à sua. É necessário a nós, como escreve São Paulo, completar o que falta à Paixão de Cristo, e, como Maria, sua Mãe e nossa Mãe, aceitar alegremente, fraternalmente nossa Compaixão. ( BARBET, 1965, p. 223)
Referências
BARBET, Pierre. A Paixão de Cristo segundo o Cirurgião. São Paulo: Edições Loyola, 1965. 223 p.